pai,
queria gravar um cd com várias músicas novas & velhas e pôr pra você ouvir num dia de domingo. depois, eu sentaria na sua cama e leria pra você uma história genial sobre alguma coisa incrível que a gente ficaria debatendo e articulando até de repente o assunto virar sua infância, meus avós, minha infância, seus avós. daí devagarinho & despretensiosamente, como só o domingo sabe ser, a gente ia virando pro lado e acabava num cochilo – da maior importância. porque como bem disse sartre, três horas é sempre tarde ou cedo demais para fazer qualquer coisa. depois, demonstrando carinho sem pudor e sem soar piegas, eu gostaria de te dizer, com firmeza de gestos & palavras, que também me orgulho de você, meu pai. a pessoa mais jovem de quem tenho notícia. e aí eu aproveitaria, nesse domingo, pra te falar que não existe pai sem filho nem filho sem pai e que por isso somos igualmente responsáveis pelas dores e delícias dessa relação. aí depois um beijo, um abraço, boa noite, te amo, se cuida. ir embora em paz. na volta pra casa eu ia pensando em como sua existência poetiza a minha e em como tenho muito mais de você do que poderia supor. isso eu te contaria num outro dia de domingo.